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  Contagem, quinta-feira, 28 de março de 2024.

Ciência e extensão rural conseguem reduzir impacto de mosca nos pomares do sul do Brasil

Uma das mais importantes pragas quarentenárias em expansão mundial na atualidade, a Drosophila suzukii ainda não possui inseticidas registrados no Brasil, mas já está sendo controlada nos pomares do Rio Grande do Sul graças a recomendações técnicas da Embrapa, repassadas aos produtores pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS-Ascar). O inseto também é conhecido por suzuki, “Spotted Wing Drosophila” (SWD), ou drosófila-da-asa-manchada.

O monitoramento e controle da suzuki foram obtidos com esforços da equipe da Embrapa em parceria com a extensão rural, produtores e outras instituições. Além de estudar as ações realizadas em outros países, os pesquisadores observaram os hábitos do inseto no Brasil, buscando formas alternativas para o seu controle, como, por exemplo, a melhor posição para a instalação das armadilhas no cultivo (veja quadro abaixo). “Estudamos os hábitos da suzuki na Região Sul do Brasil e conseguimos identificar os horários de maior atividade das moscas e também onde elas se escondem nos plantios”, comentou o pesquisador Régis Sívori Silva dos Santos, que atua em Vacaria (RS), na Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado da Embrapa Uva e Vinho e coordena as ações relacionadas à suzuki.

O pesquisador reforça que uma grande dificuldade para o controle é a facilidade de expansão desse inseto. “As fêmeas depositam os ovos nas frutas próximo ao período de maturação, sem deixar danos aparentes. Dessa forma, mesmo com a postura, as frutas são colhidas, embaladas, transportadas, comercializadas, consumidas ou inutilizadas, dependendo do estágio de desenvolvimento do inseto”, pontua. A visualização do inseto só acontece quando a fruta está completamente estragada, ou seja, com a larva desenvolvida, num período que varia de três a sete dias.

Ele explica que outros danos secundários também podem acontecer posteriormente, como doenças causadas por fungos e bactérias que entram nos frutos a partir dos danos da drosófila. “A ação da mosca Drosophila suzukii não é fácil de detectar nos pomares, pois o inseto é minúsculo e ainda pouco conhecido no Brasil”, sintetiza Santos, que complementa afirmando que desde 2008 a mosca vem causando prejuízos expressivos na América do Norte e Europa, além do Brasil, onde chegou provavelmente por meio da importação de mudas ou frutos.

Danos severos

Espécie nativa da Ásia, a suzuki foi detectada pela primeira vez no Brasil como praga em janeiro de 2014, em uma plantação de morangueiros na cidade de Vacaria (RS). Desde então, tem-se acompanhado sua elevada capacidade invasora, que fez com que o inseto se espalhasse por diversos estados brasileiros, ocasionando danos severos em frutos de casca fina, como morangos, cerejas, framboesas, amoras, quivis, pêssegos, uvas, entre outros.


Perdas de até 60% da produção

Segundo levantamentos realizados pela Emater/RS-Ascar, logo na chegada da mosca aos cultivos de morangueiros, em 2014, os prejuízos foram catastróficos. Os fruticultores perderam cerca de 60% da produção, pois não conheciam a praga. Hoje, com a adoção das práticas indicadas pela Embrapa, a praga está sendo monitorada e, quando surge, é rapidamente controlada, minimizando os prejuízos, que chegam no máximo a 5%. “Se o produtor adota todas as recomendações, o prejuízo é mínimo”, acrescenta o agrônomo Ênio Ângelo Todeschini, assistente regional em fruticultura da Emater Regional de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, um dos principais polos produtores de frutas na Região Sul.

Monitoramento com armadilhas, sol e fungo

A maior ocorrência da mosca é em períodos úmidos e de clima ameno, com picos populacionais registrados em janeiro e março no RS. Apesar de escolher o período de maturação dos frutos para se multiplicar, a suzuki pode ser encontrada no pomar inclusive quando a fruta ainda está verde. “Esse comportamento faz com que o monitoramento por meio de armadilhas no pomar seja fundamental”, destaca Santos.

A recomendação é instalar armadilhas confeccionadas com garrafinhas pet, entre um e dois meses antes do amadurecimento dos frutos. Cada recipiente deve conter entre cinco e sete furos, no terço médio, com cerca de 0,5 cm cada. Como atrativo, o especialista sugere usar uma mistura de fermento biológico, água e açúcar. “As armadilhas devem ser vistoriadas duas vezes por semana e os exemplares avaliados e computados, tarefa para a qual será necessário o uso de uma lupa devido ao pequeno tamanho do inseto. Aconselha-se usar entre duas e três armadilhas por hectare”, recomenda.

Em caso de serem capturadas drosófilas, é importante realizar a aplicação do fungo Beauveria bassiana como uma das práticas de controle. Por meio das pesquisas, o cientista identificou que os horários do ataque da mosca concentram-se de madrugada, por volta das 5h, e no fim da tarde, por volta das 19h. Nos demais horários, ela fica repousando em lugares frescos, como embaixo das bancadas no cultivo de morangueiros fora do solo. “Com esses dados, estamos conseguindo ser mais eficazes no controle do inseto, pois a aplicação é feita nos horários de maior atividade da praga. Assim, eliminamos mais moscas, que acabam ficando como vetores do fungo ao serem atacadas pelo entomopatógeno.” As pesquisas foram viabilizadas com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do Programa Farmer to Farmer.

Outra recomendação importante é manter o pomar limpo, intensificando a colheita e não deixando frutos no chão ou nas bancadas. Caso sejam identificadas frutas atacadas e imprestáveis, a recomendação é realizar a solarização, ou seja, colocar as frutas em um saco plástico fechado e deixar por duas horas no sol.

Santos complementa que os produtores estão controlando os ataques da suzuki seguindo essas recomendações, mas que a Embrapa segue buscando articulações para agilizar o registro no Brasil de produtos para o controle da praga que já são utilizados em outros países. “Será mais uma opção à disposição dos produtores”, destaca.

Armadilha caça-mosca
Gilmar Cantelli é produtor de morangos orgânicos em Bento Gonçalves desde o fim de 1999. Em 2018, ele começou a ter grandes prejuízos decorrentes do ataque da suzuki. Segundo ele, colhiam-se os frutos e, ao chegar na feira orgânica para a venda, pareciam estar podres. “Chegamos a perder 40% da nossa produção, até descobrirmos que era a suzuki. Então começamos a monitorar usando as armadilhas recomendadas pela Embrapa já em 2019”, conta o agricultor. O resultado foi tão bom que, em 2020, Cantelli decidiu ampliar o uso das armadilhas, que passaram da função de monitoramento para a de captura das moscas. Atualmente, ele utiliza uma armadilha para cada 30 plantas de morango.

“Na produção orgânica temos poucas ferramentas, mas com as orientações repassadas pela Embrapa e com o apoio da Emater, que nos ajuda na identificação, conseguimos resolver o problema dessa mosca que estava dando muita dor de cabeça e prejuízos aqui na propriedade”, conta.

O agrônomo Todeschini considera que a parceria entre Embrapa e Emater/RS-Ascar tem sido fundamental para o controle da praga. “Além de a Emater auxiliar os produtores na identificação da mosca no campo, o repasse de informações técnicas e a organização de eventos em parceria com a Embrapa são fundamentais para avançar no combate à praga,” comenta o profissional.

Apoio internacional
A Drosophila suzukii foi a responsável por atrair e garantir a primeira ação do Programa norte-americano Farmer to Farmer do Partners of the Americas no Brasil. Estabelecido há 20 anos nos Estados Unidos, o programa realiza intercâmbios para auxiliar tecnicamente outros países, levando consultores para atuar em situações pontuais e realizando atividades conjuntas de pesquisa e extensão. Em 2016, Richard Perritt, coordenador do projeto para as Américas, avaliou a expansão e os danos que a mosca estava causando no Brasil e priorizou ações no País.

Uma delas foi a visita e a consultoria da pesquisadora Hannah Burrack, do Departamento de Entomologia da Universidade do Estado da Carolina do Norte (NCSU), que auxiliou a equipe brasileira a definir ações de pesquisas visando o manejo da praga, como o uso do fungo Beauveria bassiana. Segundo Burrack, a tolerância com a ocorrência da suzuki em frutas frescas nos Estados Unidos pode ser zero, dependendo da sua finalidade. “Se uma única larva for detectada, todas as frutas daquele produtor poderão ser rejeitadas pelos compradores”, comenta a cientista.

O trabalho realizado em parceria resultou em um convite ao pesquisador Regis Santos para integrar o grupo internacional de combate à Drosophila suzukii. Santos se tornou o primeiro especialista da América Latina na equipe. Atualmente, a parceria é mantida por meio de um canal de discussão para troca de informações técnicas de pesquisa e resultados de trabalhos.

Fonte: www.embrapa.gov.br/hortalicas


Notícia de 06/08/2020.

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